Para que servem os filhos?
Por: Nêodo Ambrosio de Castro
Quando nascem, são uma graça.
Sentimo-nos realizados, perpetuados através daquele pequeno ser que surge. São muitas alegrias, cuidados, noites cansadas, tentando acalentar aquele ser recém-chegado, mas também dias de trabalho prejudicados pelo cansaço da noite mal dormida pela preocupação.
Cuidados com consultas periódicas e vacinas. Procuramos dar sempre o melhor. Os primeiros passos, as primeiras travessuras. Tudo é novidade, tudo é engraçado. Fazemos questão de fotografar sua evolução como ser humano.
O tempo passa. Levamos e buscamos na escola e procuramos sempre o melhor para eles. Vamos protegê-los de tudo e de todos, afinal, não queremos que sofram as frustrações que enfrentamos em nossa infância.
Os filhos crescem...
Agora são novos tempos, os costumes diferentes, vida moderna, leis que os protegem da “violência doméstica” dos pais. Não podemos mais castigar; no máximo, podemos restringir o lazer. Reprimir? Impossível. Os filhos já nascem compreendendo seus “direitos” e nos chantageiam de todas as formas. Ficamos sem ação diante de suas reivindicações.
Os filhos tornam-se adolescentes e adultos.
Mandamos para as melhores escolas, o melhor curso pré-vestibular... Afinal, temos orgulho e nosso filho tem que ter o melhor. Devemos satisfação aos parentes, aos amigos e à sociedade.
“O meu filho não pode estudar em qualquer escola, tem que ser a melhor, a mais cara, a que tem os métodos de ensino mais atuais e revolucionários; o meu filho terá que ser um homem de sucesso, um doutor”, assim pensamos, assim agimos. E por quê? Será que um dia eles reconhecerão as noites sem dormir para cuidar de sua dor de barriga? Será que um dia reconhecerão aquelas horas extras, aqueles fins de semana passados no trabalho para aumentar o salário e lhes dar o melhor médico, a melhor escola, todos os brinquedos que não tivemos? Não! Ao contrário, reclamarão do tempo que você passou no trabalho e não estava presente. Então, você se torna o pior pai do mundo.
Seu filho se gradua, torna-se doutor e você se sente realizado. Seu esforço será reconhecido? Não, não será. Seu filho se tornará arrogante, se encherá de razão, dirá que suas ideias são ultrapassadas, que você é “careta”.
Chegam ao ponto de censurar os próprios pais e criam um clima insustentável. Tiram a nossa razão, esquecem o bom exemplo que lhes demos, esquecem tudo que para eles fizemos, de como os defendemos de tudo e todos... Passam a nos atacar por puro egoísmo e por achar que agora sabem mais que os pais e que podem humilhá-los e constrangê-los. É o que nos tem acontecido.
Não adiantaram os ensinamentos, os bons exemplos de honra, caráter e honestidade. Pensam somente neles.
Os pais? Danem-se, só vão lhes dar trabalho. Talvez menos do que eles nos deram na infância, adolescência e juventude, mas não vão querer enfrentar problemas com idosos. Resta-nos, portanto, o consolo de que esses filhos serão os pais de amanhã, ou seu egoísmo será tão grande, capaz até de tirar deles a continuidade. Não me espantará.
Esse é o pai moderno, que gasta a própria vida para criar um ser que irá repudiá-lo quando atingir o ápice da sua carreira. E, este mesmo ser o abandonará na velhice, com vergonha de que seus amigos saibam que tem um pai velho, com ideias ultrapassadas.
Essa é a trajetória de um pai dedicado, repudiado, abandonado e não reconhecido.
Enfim, para que servimos? Se não criássemos um filho ingrato, a espécie humana agonizaria. E a vida, no final das contas, não faria sentido.
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