Política



A democracia e Marco Feliciano

por: Rafael Augusto de Oliveira

Certo dia, eu estava com um amigo em uma movimentada rua da zona oeste de São Paulo, quando nos deparamos com o semáforo quebrado. De cara exclamei: “agora vamos demorar uma eternidade pra atravessar isso!”. Para o meu espanto, ele respondeu: “Que nada! Passo por essa avenida todos os dias e desde que esse semáforo parou de funcionar o trânsito no horário de rush tem melhorado.” Imediatamente, comecei a pensar no por que isso estava acontecendo e concluí que o farol verde indica, de maneira equivocada, a liberdade de prosseguir numa situação de trânsito, fazendo com que muitos carros acabem por parar no meio do cruzamento.

Essa situação me fez raciocinar sobre a nossa elevada capacidade de cooperação na ausência de leis, ou melhor, com total liberdade nas ações. O ser humano é diferente dos demais animais do planeta, justamente por conseguir (ou pelo menos tentar) conviver pacificamente entre si e em harmonia com meio ambiente. Arrisco até a dizer que essa paz, a que me refiro, é encontrada quando o homem começa as relações de troca.

Vejo hoje no Brasil um grande asco da sociedade em relação aos que a representam em diversos segmentos do Senado e da Câmara dos Deputados. Uma grande campanha tem sido feita, recentemente, contra o pastor Marco Feliciano presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Concordo que uma pessoa do caráter e perfil deste homem não pode jamais presidir nada em sua vida, porém o erro não é só esse.

Estive presente em algumas passeatas sobre o tema nos últimos dias e ouvi, repetidas vezes, dos seus coordenadores e do próprio público um forte clamor por democracia. Mas, esperem um minuto... O que há de errado com a democracia? Quem escolheu esse cidadão para nos representar? Temo que não haja nada de errado com a democracia e que, aliás, ela vem cumprindo exatamente seu papel, o de oprimir as minorias (não importando quem seja). Infelizmente, nós escolhemos esse cidadão para o cargo e negar isso faz com que o diagnóstico da real doença seja errado.

O afastamento do pastor de sua função não muda o fato de que, ainda hoje, minorias têm importantes direitos (e assim a liberdade) negados pelo Estado. Embora sejamos “reféns de nosso tempo”, é necessário, nesse ponto da história, olharmos para trás e nos perguntarmos se não somos como todos os outros personagens históricos que, sem questionar (devido a certo comodismo), aceitavam a escravidão, nazismo, fascismo, entre outras formas de discriminação e violência.

Gritar por democracia, no caso Marco Feliciano, é apenas mudar os opressores e os oprimidos, quando na realidade deveríamos clamar por uma opção, onde as liberdades individuais sejam efetivamente respeitadas. Creio que essa opção não condiz com a definição de democracia.


Rafael Augusto de Oliveira (do “Economia Depressão”)



Nota do editor:

Para quem não conhece, a página do Economia Depressão foi criada em 24 de novembro de 2011, com o slogan: Para você que sabe que ficar desempregado é fazer trabalho de campo junto ao "exercito industrial de reserva".

Rafael Augusto de Oliveira é um dos colaboradores da página que hoje possui 18.849 seguidores. Misturando economia, política com uma dose de bom humor, os meninos colocam em debate diversos temas sociais atuais, onde a participação do internauta é fundamental. Vale a pena conferir.



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